Metade de mim é amor, e a outra metade...
Hoje eu vim falar de amor, por mais que me pareça que não há o que falar. Há muito tempo parece que uma coisinha adormeceu dentro de mim e eu venho tentando reacorda-lá, de todas as formas possíveis. Todos os dias eu bato na sua porta, com café quente e um sorriso largo e digo “Ei, coisinha, hoje eu preciso de você.”. Mas ela é sonolenta, e volta a dormir ou simplesmente me ignora. Essa coisinha se denomina, talvez, esperança. Esperança que o mundo melhore. Que as pessoas sejam amáveis, abram portas, ajudem desconhecidos, deem bom dias sem desconfiança ou quartas intenções.
Talvez seja mal de quem foi criada pela avó, mas ao perguntar “Tudo bem?” é esperado realmente uma resposta verdadeira, e não automática. Ao se perguntar “Você quer uma xícara de café?” não é somente educação, mas um convite para um bate papo gostoso, que não tenha haver com o preço da gasolina ou o frio. Se você ajuda alguém que não te dá motivos para isso, não é burrice, é amor, perdão, solidariedade ou simplesmente não desperdício de tempo dando-o-troco.
Os relacionamentos vêm ficando cada vez mais superficiais, e não culpo ninguém especificamente. Mas isso tem virado uma cultura, da qual eu não quero participar.
Jean Jaques Rosseu disse uma vez “Quanto mais eu conheço do mundo, menos posso moldar-me a sua maneira.”. Concordo com esse cara, se fosse no FaceBook eu curtiria, comentaria e compartilharia. Chega de “mais amor, por favor –ou sem favor-“. Chega. Chega de foto mostrando dois dedos, chega de compartilhamentos de cachorros -nada contra, mas só amor pelos peludinhos não basta-, chega de pregar amor, e não fazer coisas simples como sorrir para o porteiro. Sou do time que não confia em quem não dá nem um sorrisinho tímido para esses mestres das portas e portões.
Atualmente, capitalismo é viral, epidêmico e natural. Mas dinheiro não supre falta de contato social, de riso, de prazer em viver. Ele compra a viagem para a Disney, mas se engana que acha que compra a diversão. Ao menos, não a plena e sem culpa, de quem vive uma vida completa e verdadeira. Mas compra a de quem passa setenta por cento da viagem tirando fotos, para se lembrar da viagem em que passou tirando fotos a todo tempo.
Todos se perguntam qual o mal da humanidade, a resposta é simples. Não falta amor, falta amar. Falta o que toda essa corrida industrial nos tirou, valores como um fato e não uma opção. Falta menos falar e mais fazer. Falta pratica de uma teoria tão sabida.
Mas quer saber? Eu acho que ainda tenho esperança, sim. Os adolescentes vêm se tornando seres pensantes e de muita atitude, mais ousados que seus pais e com mais necessidade de afeto e coisas reais. Viva aqueles que acreditam que não só de curtidas e chats viverão os homens, mas de toda palavra que sai da boca e todo aperto de mão com um sincero “passe lá em casa qualquer dia desses!”. Talvez meus filhos não participem dessa explosão de digital, mas sim da era em que os costumes são resgatados. E, eu não vou falar “não custa sonhar”, o que não custa aqui, é tentar.